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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Intocáveis

Para os amantes da sétima arte, não há nada mais prazeroso que entrar em uma sala de cinema sem grandes expectativas e após duas horas sair dela completamente maravilhado. Essa foi minha reação há poucas semanas quando finalmente assisti Intocáveis.

Na verdade, digo finalmente, porque eu não fui assistir sem nenhuma expectativa. Eu já havia ouvido a edição do Rapaduracast Plus 54 onde comentam o lançamento do filme no circuito nacional e recebido a recomendação de dois colegas. De qualquer maneira, fui surpreendido pois estava esperando um drama e na verdade o filme é uma excelente comédia, ainda que baseado em uma situação dramática, ela é abordada sem sentimentalismo.

O filme baseia-se em fatos reais vividos pelo bilionário aristocrata francês Philippe Pozzo di Borgo e seu cuidador Abdel Yasmin Sellou. No filme, Philippe é retratado pelo excelente ator François Cluzet e Abdel fica a cargo do carismático ator Omar Sy.  Após sofrer um grave acidente, o aristocrata fica paraplégico e resolve contratar um novo cuidador, e para isso, passa a recrutar candidatos ao cargo. Driss (Omar Sy) um ex-presidiário em liberdade condicional candidata-se a vaga sem nenhuma pretensão de obtê-la, pois seu único objetivo é realizar a entrevista, para somar as 3 entrevistas sem sucesso e continuar a receber o seguro desemprego francês.

Durante a entrevista, Driss comporta-se de forma totalmente despretensiosa e sem nenhuma preocupação com as boas maneiras necessárias para a ocasião, o que acaba chamando a atenção de Philippe, que resolve convencê-lo a aceitar o cargo. Começa então uma relação de companheirismo e amizade desprovida de piedade, tanto por parte de Driss, que tem sua cota de problemas familiares, quanto de Philippe.

A química entre esses dois atores é fantástica e fazem certamente o sucesso desse ótimo roteiro. O filme é dirigido pela dupla de diretores e roteiristas Olivier Nakache e Eric Toledano, e tournou-se a maior bilheteria francesa de todos os tempos, superando os antecessores O Artista e O Fabuloso destino de Amélie Poulain.

Hollywood que tanto apreciamos que me desculpe, mas não há nada como um belo roteiro francês, ainda que seja um filme comercial. Como faz o pessoal do podcast MRG (Matando Robôs Gigantes), minha nota de 0 a 5 robôs gigantes para Intocáveis é um raro e valoroso 5 robôs gigantes.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Rolling Stones - 50 Anos!


Comemorar 50 anos de alguém ou de alguma coisa deve ser por si só uma verdadeira celebração. O que pensar de 50 anos de uma banda de Rock? Se lembrarmos que o próprio Rock n´ Roll tem pouco mais de 60 anos, como uma única banda consegue ser tão duradoura?

Desde o último mês de Julho o mundo celebra os 50 anos dos Rolling Stones, a qual para muitos (inclusive por este que vos escreve) é a maior banda de Rock de todos os tempos. Fundada em 12 de Julho de 1962 na cidade de Londres, sua primeira formação era composta por Brian Jones, Keith Richards, Mick Jagger, Bill Wyman e Charlie Watts, e a banda alicerçava-se no bom e velho Blues.

Fãs incondicionais dos grandes Bluesmen Americanos como Muddy Waters, John Lee Hooker, Buddy Guy etc, e também pelo qual é considerado o verdadeiro pai do Rock, Chuck Berry, a banda se baseava no repertório desses artistas. O próprio nome da banda foi sugerido a partir de uma música do Muddy Waters intitulada Rollin Stones, sendo a primeira apresentação da banda com esse nome foi realizada no mítico Marquee Club de Londres, em 1962.

A primeira alteração na composição da banda veio em 1969 com a morte de Brian Jones, o Stone mais famoso nessa época, com então 27 anos (sim, ele é o segundo membro do clube dos 27 e do “J” famosos que morreram nessa idade, que começou com Robert Johnson, Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison), apesar dele ter abandonado a banda poucos dias antes de sua morte. Para compor o lugar do Jones, entra na banda Mick Taylor. Dias após a morte de Jones havia um show já programado há muito tempo que fora realizado no Hide Park, em Londres, para um público de mais de 300 mil pessoas, onde foi colocado uma grande foto de Jones, e teve a apresentação interrompida por Jagger para ler uma passagem do poema Adonais de Percy Bysshe Shelley, enquanto 3000 borboletas brancas eram soltas do palco para a plateia emocionada.
 
Ainda em 1969, no dia 6 de dezembro foi realizado um grande show que marcaria definitivamente a vida da banda. Esse show foi ao ar livre na cidade de Altamont, na Califórnia, com um público pelo menos duas vezes maior que do Hide Park e apresentou problemas antes mesmo de começar. A segurança do show foi realizada pelo famosa gangue de motoqueiros Hell´s Angels, de São Franciso. Qualquer pessoa que tentasse subir ao palco era agredida e escorraçada de volta para a plateia. Durante o show do Jefferson Airplane, que abria o show dos Stones, a quantidade de fãs encaminhadas para a enfermaria do local era maior do que os médicos de plantão tinham capacidade de atender. Durante o show dos Stones, um fã que já havia sido agredido pelos selvagens Hell´s Angels, tenta novamente invadir o palco e é esfaqueado por um dos seguranças e acaba morrendo no mesmo dia. O fato é controverso, pois há uma versão de que o jovem esfaqueado estava armado e chegou a levantar o revolver em direção a Jagger, por isso o segurança se jogou em direção a ele e o esfaqueou.

Em 1971 a banda estreia seu próprio selo, o Rolling Stones Records, propiciado pelo fato da banda ter passado para a Atlantic Records. Nesse ano a banda lança o épico disco Stick Fingers, com a capa idealizada por Andy Warhol e lança também o mais famoso logo do Rock, a Boca com a língua para fora, que é equivocadamente atribuído a Andy Warhol, mas que na verdade foi criado por John Pasche.
Em 1974 os Stones gravam o clássico It´s only Rock n´Roll no estúdio de Ronnie Wood, então guitarrista do The Faces (liderada por Rod Stweart) e qual acaba assumindo a segunda guitarra da banda, após saída repentina de Mick Taylor que opta por seguir carreira solo.




Após vários sucessos na década de 70, os Rolling Stones saem da Atlantic Records e vão para a EMI em 1981 e lançam o disco Tattoo You, tido por muitos com o melhor álbum dos Stones e o maior sucesso comercial.

Em 1985, Ian Stewart, pianista da banda e considerado o 6º Stone morre em virtude de um ataque cardíaco e é homenageado no ano seguinte com o álbum Dirt Work.
 
Após alguns anos separados em virtude de desentendimentos entre Jagger e Richards, os integrantes aproveitam para lançar álbuns em carreiras solo. Em 1989 os integrantes da banda colocam os problemas de lado, gravam o álbum Steel Wheels e inauguram a onda dos mega palcos e tornam-se a maior banda de todos os tempos. A partir de 1990 e do lançamento de Flashpoint, a banda torna-se expert nos negócios, transformando-se em uma banda multimilionária, alcançando espaços na mídia até então nunca vistos, consolidando a marca “The Rolling Stones”.

Em 1993 outro membro fundador deixa a banda; o baixista Bill Wyman. Para seu lugar é contratado o baixista Darryl Jones, não sendo considerado membro oficial. Ainda esse ano é lançado o álbum Voodoo Lounge e finalmente a turnê da banda vem para o Brasil (eu estava lá no Pacaembu e quase tive um ataque cardíaco de emoção, rs..), já que na década de 70 os shows programados para serem realizados no Brasil e outros países da América do Sul fora boicotado pelos então governos militares.

Em 2002 a banda completa 40 anos e lança o disco Forty Licks, e saem em turnê ao redor do mundo, intitulada como Licks Tour. Três anos mais tarde é lançado o álbum e a turnê A Bigger Bang, que passa pelo Brasil através de um mega show gratuito na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, para mais de 1,5 milhões de pessoas, entrando para a história como o maior show da banda e o maior concerto de rock de todos os tempos.
No ano de 2008, estreou nos cinemas mundiais o filme The Rolling Stones Shine a Light, concebido e dirigido por pelo grande diretor Martin Scorsese (um declarado fã da banda), com 16 câmeras focadas diretamente nos músicos. O filme mostra ainda imagens de arquivo desde o início da banda nos anos 60, confrontando com declarações atuais dos integrantes.
 
Finalmente em 2012 a banda completa seus 50 anos de trabalho e são considerada uma das mais antigas em atividade. No mesmo ano, começam a ensaiar para saírem em uma nova turnê no fim do ano, ou início de 2013, aquela que pode ser a turnê de despedida da banda, e lançam um novo logo comemorativo, desenhado pelo artista Shepard Fairey.




E para continuar a comemoração, as próximas versões na sessão “Música” será dedicada aos Rolling Stones.



terça-feira, 21 de agosto de 2012

George R.R. Martin entrevista Bernard Cornwell


Este post é dedicado aos fãs de Martin, escritor da célebre saga As Crônicas de Gelo e Fogo, a qual você também pode ver a série televisiva que está sendo produzida pela HBO com o nome de Game of Thrones (o segundo post desse blog, leia aqui), e também do escritor Bernard Cornwell, autor de As Crônicas de Arthur, As Crônicas Saxônicas entre outros.

Esta entrevista foi feita e publicada pelo próprio Martin em seu blog.

Enjoy it.

G. Martin: É muito antiga minha afirmação de que o romace histórico e a fantasia épica são irmãos sob a pele, que os dois gêneros tem muito em comum. Minha série deve muito ao trabalho de J.R.R Tolkien, Robert E. Howard, Jack Vance, Fritz Leiber, e os outros grandes fantasistas que vieram antes de mim, mas eu também tenho lido e apreciado o trabalho dos romancistas históricos, como Thomas B. Costain, Mika Waltari, Alfred Duggan, Nigel Tranter, e Maurice Druon. Quem foram suas próprias  influências? Que escritores você cresceu lendo? Ficção histórica foi sempre sua grande paixão? Você já leu fantasia?


B. Cornwell: Você está certo – romances de fantasia e históricos são gêmeos – e eu nunca gostei do rótulo “fantasia”, que é muito generalista e acaba fazendo alusão aos contos de fadas. Parece-me que você escreve romances épicos em um mundo inventado que é fundamentado na realidade histórica (se as histórias dos livros se passam no futuro, então “fantasia” torna-se magicamente “Sci-fi”). Então eu fui influenciado por todos os três: fantasia, sci-fi e romances históricos, embora a maior influência tenha sido dos livros de Hornblower do C.S. Forester. Eu os li quando era adolescente, era consumido por eles, fiquei sem material de leitura após o último da série e assim comecei a ler as histórias de não-ficção do período napoleônico. Isso levou a uma obsessão por Wellington e seu exército, o que levou diretamente para Sharpe. Talvez se eu tivesse lido Tolkien antes de Forester, então eu teria tomado aquele caminho (e ele me tenta!) mas todos nós escrevemos o que queremos ler e eu sempre fui um ávido consumidor de romances históricos... e, é claro, de histórias! Devorei todos os escritores clássicos de Sci-Fi: Asimov, Heinlein, e etc. Eles me ensinaram como a história é importante, mas a grande dívida está com C.S. Forester (outro mestre contador de histórias).

G. Martin: Fantasistas desfrutam de certas liberdades que os romancistas históricos não. Eu posso surpreender meus leitores, matando reis e outros personagens principais, mas o destino de reis e conquistadores do mundo real está bem ali, nos textos da história, nós sabemos quem vive e quem morre antes de terminarmos o romance aberto. Quando a batalha acontece no Abismo de Helm ou nos Campos de Pelennor do Tolkien, ou sobre a Baía de Água Negra e no Bosque dos Murmúrios, em minhas próprias fantasias, o resultado da luta é desconhecido até o autor revelá-lo na página, mas o romancistas histórico é obrigado a trilhar o caminho estabelecido pela história. Como você lida com o desafio de fazer Waterloo ou Bull Run ou Agincourt algo surpreendente e emocionante  quando a maioria dos seus leitores sabem de antemão o resultado?

B. Cornwell: Eu posso surpreender os meus leitores matando reis e outros personagens principais. Oh sim, você pode fazer isso! Eu ainda não te perdoei pela execução de Ned Stark, mas eu estou aprendendo a viver com ela. Eu nunca penso que importa se o leitor conhece o desfecho da história antes de chegar ao fim – todos nós, quando crianças, queríamos que as mesmas histórias fossem contadas para nós mais e mais ainda mesmo que soubéssemos que o lobo não conseguiria comer a pobre Chapeuzinho. Eu sempre penso em um romance histórico como tendo duas histórias – a grande história e a pequena – e o escritor as inverte. A grande história em Gone With the Wing é se o Sul pode sobreviver à Guerra Civil e todos nós sabemos o que aconteceu, mas a pequena história é se Scarlet pode salvar Tara, e essa pequena história é colocada em primeiro plano, enquanto a grande história serve como plano de fundo. Suponho que o suspense esteja nessas pequenas histórias – o Sharpe vai sobreviver à Badajoz? (bem, o leitor sabe que ele vai, eu suponho!). E eu acho que os leitores conseguem encontrar um fascínio no desenrolar de uma história. Grande parte do povo inglês conhece a Batalha de Agincourt – está profundamente na consciência nacional – mas quase ninguém sabe o que realmente aconteceu lá. A história rapidamente se transforma em mito (o mito de Agincourt diz que as flechas ganharam o dia, o que decididamente não aconteceu, embora Deus saiba que Henrique teria perdido sem elas) e, talvez, um dos prazeres  de ler  um romance histórico é descobrir  a verdade por trás do mito.

G. Martin: Ficção histórica não é história. Você está misturando fatos reais e personagens históricos reais com personagens de sua própria criação, como Uhtred e Richard Sharpe. Quanta “licença poética” deve ter um romancista quando lida com os acontecimentos da história? O quão preciso ele precisa ser? De onde você traça essa linha?

B. Cornwell: Não posso mudar a história, mas posso jogar com ela. A resposta depende um pouco do que estou escrevendo. Eu fiz uma trilogia sobre o “Rei” Arthur e não há quase nenhuma história real na qual possamos contar, então eu pude fazer mais ou menos o que eu queria. Quanto aos livros saxônicos eu tive um esqueleto para a história graças à Crônica Anglo-Saxônica e algumas outras fontes, mas não há muita carne sobre os ossos, por isso tenho muita liberdade. Mas se eu estou escrevendo sobre a Revolução Americana, então eu não tenho quase nenhuma liberdade, porque eu estou invadindo o terreno elevado da lenda americana e devo contar a história real se o livro vai persuadir o leitor a respeito da veracidade da história – por isso, em Redcoat, eu mudei apenas um evento, trazendo-o para a frente apenas 24 horas. Então eu confessei os meu pecados em uma nota histórica no final do livro. Ocasionalmente eu fiz mudanças drásticas; Sharpe´s Company conta a história do terrível ataque de Badajoz e, em resumo, de uma simulação de ataque que pretendia apenas chamar os defensores franceses para longe das brechas, capturando a cidade, enquanto o ataque principal sobre essa brecha falhou desastrosamente. Pareceu-me que o drama daquela noite aconteceu nessa brecha, assim Sharpe tinha de atacá-la, e se Richard Sharpe ataca, ele ganha (ele é um herói). Assim, no romance, eu permiti que os atacantes chegassem através da brecha (o que não aconteceu), pois caso contrário, a história não iria funcionar. Mas, novamente, eu confessei o pecado no final do livro.

G. Martin: Eu escrevi tanto ficção científica quanto eu tenho escrito fantasia ao longo dos anos. Um subgênero cada vez mais popular é a ficção científica é o romance do mundo alternativo – às vezes chamado de “contrafactuais” pelos historiadores, ou de histórias “e se?” pelos fãs. Por falta de um prego, o reino foi perdido... mas e se o prego não foi perdido? E se Napoleão ganhou Waterloo? E se o Sul venceu a Guerra Civil? E se o Império Romano nunca caiu? O que você acha de tais histórias? Você já esteve tentado a escrever uma você mesmo?

B. Cornwell: Nunca! Talvez seja só eu, mas a história alternativa não tem recurso. Lembro-me de um filme louco em que eu F-16 da Força Aérea Americana de repente apareceu sobre Pearl Harbor. Certo. Começamos por concordar que romances de “fantasia” e romances históricos são gêmeos e parece-me que a mistura dos dois é incestuosa e, ao contrário de Jaime e Cersei Lannister, eu não sou fã desses incestos.

G. Martin: Falando em batalhas... Eu acredito que você faz as cenas de batalha melhor do que qualquer outro escritor que eu já li, passado ou presente. E de onde eu estou sentado, as batalhas são difíceis. Eu escrevi a minha parte. Às vezes eu emprego o ponto de vista privado, muito de perto e pessoal, deixando o leitor no meio da carnificina. Isso é vivido e visceral, mas de necessidade caótica, e é fácil perder todo o senso de batalha como um todo. Às vezes eu vou com o ponto de vista geral, em vez disso, olhando para o baixo do alto, vendo linhas e flancos e reservas. Isso dá uma grande sensação de táticas, de como a batalha é ganha ou perdida, mas pode facilmente escorregar para a abstração. Mas você parecer ser capas de fazer as duas coisas, simultaneamente. As setas de Agincourt, Uhtred grunhindo e empurrando uma parede de escudos Saxões, Sharpe levando uma esperança vã... você nos dá todos os sons, cheiros e sangue, e ainda assim as táticas de batalha permanece sempre compreensíveis. Como você faz isso? Quais são os blocos de construção de uma cena grande de batalha? De todas as batalhas que você escreveu, você tem uma favorita?

B. Cornwell: Eu tenho uma enorme vantagem sobre você, a de que minhas batalhas foram travadas e os sobreviventes deixaram relatos, e alguns tem sido exaustivamente descritos pelos historiadores militares, então, é me dado um quadro que você tem que inventar. Eu também odeio ler uma história militar e ficar confuso, normalmente por algarismos romanos (“Corpo XV mudou-se para oeste enquanto a Brigada XIV foi reimplantada em direção ao sul” e assim por diante), o que significa que você está tendo que constantemente ser direcionado a um mapa, ou mapas, e tentar lembrar qual é o Corpo XV... Assim, eu tento dar um quadro ao leitor antes da batalha começar – onde eles estão lutando? Quais são os marcos mais salientes? Quais unidades são importantes? Eu não quero que o leitor pare para consultar um mapa... Embora eu tenha certeza que falhei nisso. Feito isso vou tentar mudar o ponto de vista, assim como você faz, entre um close-up desagradável e uma visão geral mais distantes dos combates. The Face of Battle, do John Keegan, é um livro maravilhoso para ler e descobrir como os homens experimentam uma batalha, e isso foi uma grande influência. Eu inventei batalhas a partir do zero – e aquela que eu estou mais orgulhoso é a do Monte Badon nos livros de Arthur. A batalha aconteceu, mas não sabemos nada do que aconteceu (ou até mesmo onde aconteceu), então eu usei as táticas de Wellington da batalha de Salamanca em Sharpe´s Sword.

G. Martin: Um tema familiar em uma série de fantasia épica é o conflito entre o bem e o mal. Os vilões são frequentemente dark lords com capangas demoníacos e hordas de subordinados destorcidos, deformados e vestidos de preto. Os heróis são nobres, valentes, castos e muito formosos à vista. Sim, Tolkien fez algo grandioso e glorioso a partir disso, mas nas mãos de escritores menores, bem... vamos apenas dizer que esse tipo de fantasia se tornou desinteressante para mim. São os personagens cinzentos que mais me interessam. Esses são os tipos que me interessam escrever a respeito... e ler sobre. Parece-me que você compartilha essa afinidade. Seus protagonistas tem momentos de heroísmo, mas eles tem falhas também. Por mais que eu goste de ler sobre Uhtred, há mais do que uma pequena escuridão nele, e Richard Sharpe não é um homem que você queira atravessar. E você chegou ao ponto de fazer o protagonista de seu romance sobre Guerra Civil americana um copperhead, um nortista combatendo pelo sul... Não é um grupo que gera muita simpatia. Seus vilões são tão humanos, não há um monstro de papelão entre eles. E você é geralmente menos do que reverente quando retrata alguns dos heróis da história britânica e americana. Paul Revere e Alfred, o Grande me vêm à mente. O que existe nos personagens imperfeitos que os torna mais interessantes do que heróis convencionais?

B. Cornwell: Talvez todos os nossos heróis são reflexos de nós mesmos? Eu não estou dizendo ser Richard Sharpe (Deus nos livre), mas tenho certeza que parte da minha personalidade vazou para ele (ele é muito mal-humorado no período da manhã). Certa vez, escrevi uma série de prefácios para os livros Hornblower e tive de lidar com a questão perene em qual Hornblower foi baseado? Alguns disseram Cochrane, outros sugeriram Edward Pellew (ambos foram notáveis capitães de fragatas nas guerras napoleônicas), mas era óbvio que Hornblower era a pessoa que Forester quis ser. Hornblower foi Forester, sem alguns dos traços menos atraentes de do Forester. A maioria dos meus heróis são pessoas de fora... talvez porque eu me senti assim quando crescia (longa história, não vamos contá-la aqui), e é por isso que meus personagens favoritos seus são Arya e Jon Snow. E, talvez, personagens falhos são mais interessantes porque são forçados a fazer uma escolha... Um personagem convencionalmente bom tem vontade sempre de fazer a coisa certa; direita. Chato. Sharpe, muitas vezes fez a coisa certa, mas geralmente pelas razões erradas, e isso é muito mais interessante.

G. Martin: Quando Tolkien começou a escrever O Senhor dos Anéis, foi concebido como uma continuação para O Hobbit. “A história cresceu enquanto era contada”, disse ele mais tarde, quando O Senhor dos Anéis tinha crescido e se tornado a trilogia que conhecemos hoje. Essa é uma frase que eu muitas vezes tive ocasião de citar ao longo dos anos, como a minha própria As Crônicas de Gelo e Fogo, que cresceu de três livros que eu tinha originalmente vendido para os sete livros (cinco publicados, dois a mais para escrever) que agora estou produzindo. Muito do seu trabalho também tomou a forma de série. Os seus contos também “crescem enquanto são contados”, ou você sabe quanto tempo vai levar suas viagens antes de se preparar? Quando você escreveu o primeiro do Sharpe, você podia imaginar quanto tempo e quão longe você iria marcar com ele e Harper? Você sabia quantos livros de histórias Uhtred exigiria quando você se sentou para escrever sobre ele?

B. Cornwell: Não faço ideia. Eu nem sei o que vai acontecer no próximo capítulo, muito mais no próximo livro, e não tenho ideia de quantos livros poderia haver em uma série. E.L. Doctorow diz algo que eu gosto que é que escrever um romance é um pouco como dirigir por uma estrada de um país desconhecido durante a noite e você só pode ver o mais longe que seus faróis um pouco fraco lhe mostram. Escrevo na escuridão. Eu acho que a alegria de ler um livro é descobrir o que acontece, e para mim essa é a alegria de escrever um também.

G. Martin: Eu conheci milhares dos meus leitores face a face, não só em turnês do livro, mas em convenções de fantasia sci-fi, onde tende a existir muito mais interação entre os escritores e leitores do que é habitual em outros gêneros. Eu costumava responder a todas as minhas cartas de fãs, nos dias em que os leitores ainda enviavam cartas aos cuidados de meus editores (foi fácil, não havia muito). O e-mail tem aumentado a quantidade de cartas que recebo milhares de vezes, muito além da minha capacidade de mantê-las, mas eu ainda tento ler todos os e-mails que recebo, mesmo quando eu não posso respondê-los. Eu não tenho Facebook ou Twitter, mas eu tenho um blog (no Live Journal), e meu endereço de e-mail pode ser encontrado com bastante facilidade. Mas existem perigos de ser tão acessível, como eu descobri nos últimos anos. A grande maioria dos meus fãs são pessoas incríveis, perspicazes, inteligentes, solidárias... mas há uma pequena mas vocal minoria que pode ser irritante. Como você tem se relacionado com seus leitores ao longo dos anos? Você acha que um leitor não deve nada a seus leitores, além do trabalho em si? Os fãs enviam-lhe sugestões como eles querem que a série acabe? Enviam-lhes obra de arte, presentes? Nomeiam filhos e animais de estimação com o nome de seus personagens? Escreve “fanfictions” usando seus personagens? Você alguma vez se viu influenciado pelas reações de seus leitores para com um livro, ou um personagem?

B. Cornwell: Eu encontrei meus fãs para ser fantástico. Há um punhado minúsculo que quer ser excessivamente crítico sobre alguns detalhes (e sim, é claro que existem erros) e uma vez, no meu site, eu implorei para que um leitor encontrasse um outro autor para ler. Mas a grande maioria é divertida de se conhecer e é de importância vital ouvi-los. Eu fiz uma excursão do livro uma vez e três pessoas separadamente me disseram que hora de Sharpe ter alguma mulher de alta classe. Eu não tinha percebido que ele vinha convivendo com mercadoria bruta durante tantos livros, então eu respondi a eles dando-lhes Lady Grace em Sharpe´s Trafalgar, e ela continua sendo minha heroína favorita. Ela nunca teria existido sem os fãs.

G. Martin: Ambos tivemos o privilégio de ver nossos personagens trazidos à vida na televisão. Sean Bean foi Richard Sharpe muito antes de ter sido Ned Stark (e verdade seja dita, ele foi um Ned Stark em grande medida, porque David Benioff, Dan Weiss, tínhamos visto o quão magistralmente ele interpretou Sharpe). Como você se sentiu sobre a série da BBC? Até que ponto você se envolveu com ela? Será quem algum dia vamos ver algum de seus outros personagens na tela? Se assim for, você mesmo gostaria de escrever os roteiros? O que você acha que faz uma boa adaptação? E será que vamos ver Sean Bean como Sharpe novamente?

                                                                             Sean Bean como Ned Stark

B. Cornwell: Eu achei que o Sharpe da série foi ótimo mesmo. É claro que eles mudaram os livros, mas eles não tinham escolha. Você e eu podemos escrever uma cena com 100 mil e isso não nos custa nada, mas todo o extra é um dreno em um orçamento de TV, mas eles lidaram muito bem com essa restrição e Sean, é claro, foi um Sharpe maravilhoso e um Ned Stark (que deveria ter vivido, maldito). Até onde eu sei não há planos para uma nova série. Há uma conversa de fazer Agincourt em um filme (eu não estou prendendo a respiração) e uma série de TV sobre Uhtred (o que seria bom, mas novamente, eu ainda estou respirando). Eu não quero nenhum envolvimento com qualquer produção, fora o de ser um líder de torcida. Eu trabalhei em televisão por 11 anos e aprendi o suficiente para saber que eu não sei nada sobre produção de drama de TV, por isso eu estou feliz em deixá-lo para os especialistas. E eu duvido que poderia escrever um script – Eu nunca tentei e preferiria escrever um romance.

G. Martin: Última pergunta. O que Bernard Cornwell nos reserva? Você já fez as Guerras Napoleônicas, a Guerra Civil Americana, a Guerra dos Cem Anos, Rei Arthur, os saxões e os dinamarqueses. Você vai voltar a qualquer uma dessas eras, revisitar algum de seus personagens das grandes séries? Ou existem outras épocas da história que você pretende contar?

B. Cornwell: Há um período que eu estou desesperado para escrever sobre (perdoe-me se eu não digo qual porque eu não quero outra pessoa escrevendo sobre ele em primeiro lugar). Mas o próximo é um outro romance sobre Thomas de Hookton na Guerra dos Cem Anos, então de volta a Uhtred e os saxões.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Drive - O Filme


Depois de um breve intervalo, volto com um post dedicado a sétima arte. Drive certamente é um dos melhores filmes que assisti esse ano. Poderia falar muita coisa sobre ele, mas preferi publicar a crítica bem escrita do site Pipoca e Nanquim, a qual eu concordo em gênero número e grau.
Uma boa leitura!


É muito interessante acompanhar a ascensão de um exímio cineasta. Depois de executar uma respeitável trilogia intitulada Pusher, o diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn chamou a atenção de todos com a insana história real de Bronson o presidiário mais infame e brutal da Inglaterra -, e em O Guerreiro Silencioso (Valhalla Rising) explorou de forma assustadora a vida de homens perdidos em uma Europa montanhosa, que beirava o início das cruzadas e chafurdava na violência e ignorância. Uma realidade certamente distante.

Mas em Drive, o diretor atinge um nível de perfeccionismo que em suas outras obras não alcançou. Ele encontra o tempo certo, apresenta a trilha perfeita, escolha somente as palavras exatas e entrega de presente uma fita memorável, que o posiciona ao lado de grandes diretores de nossa geração. Sem exageros.

O Filme conta a história de um jovem e habilidoso motorista que trabalha como dublê em cenas de velocidade. Mas, em suas horas vagas, exerce outro tipo de serviço onde a perícia ao volante é igualmente importante. Cercado por interesses escusos da máfia local, o piloto acaba pisando em alguns calos, fato que desengatilha uma cadeia de eventos que pode prejudicar todas as pessoas ao seu redor, inclusive sua nova amiga Irene, cujo filho Benício tem pouco mais de 10 anos.

Como todo trabalho bem sucedido, podemos perceber em Drive o caminho, respeito e, principalmente, a atenção que o diretor tem aos mínimos detalhes de sua execução. A criatividade então surge como diferencial: cenas inteligentes, elaboradas de forma poética, iluminação fantástica e edição ao melhor estilo europeu. E o que falar da emblemática trilha sonora? Ela consegue fazer com que a sonoridade dos anos 80 emocione novamente, mesmo com suas linhas extremamente melosas, sintetizadas e irreais.

Refn apresenta traços de genialidade que obviamente são frutos da influência de mestres como Martin Scorcese, Tarantino, Kubrick e do conterrâneo Lars Von Trier. Na verdade, o slow motion utilizado pelo diretor, em certos momentos, nos remete as atuais obras de Trier, como Melancolia e o Anticristo.

O roteiro de Hossein Amini adapta o elogiado clássico noir homônimo de James Sallis. A forma mecânica com que o motorista se desenvolve no livro é transcrita de maneira exemplar no longa, fazendo do personagem um ser complexo e contraditório, altamente articulado mas, ao mesmo tempo, se focando somente em agir instintivamente, como se fosse apenas uma extensão de seu carro, um herói cheio de falhas e estranhezas.

"Much later, as he sat with his back against an inside wall of a Motel 6 just north of Phoenix, watching the pool of blood lap toward him, Driver would wonder whether he had made a terrible mistake. Later still, of course, there´d no doubt. But for now Driver is, as they say, in the moment."
 - Trecho do livro Drive, de James Sallis.

E no papel do motorista sem nome temos Ryan Gosling. Sendo comprovadamente um bom ator, em Drive ele encarna, principalmente, o espírito de um cara diferente em tudo que faz, com raciocínio rápido e apto a realizar atos de violência descomunal. Basicamente nenhuma informação de seu passado é oferecida, e poucas frases são proferidas pelo mesmo durante toda a projeção - poucas, mas contundentes. Lembrando em certos momentos um ser robótico, e em outras o Stallone "Cobra", podemos até fazer um link do motorista com heróis de games desprovidos de alma, como Niko Belic, da franquia GTA (Rockstar), ou mesmo enxergar semelhanças  do longa com a série  Driver (Ubisoft). 

Servindo como par romântico (pouco convencional) temos Carey Mulligan e sua adorável Irene. A atriz apresenta extrema sensibilidade com a personagem, fazendo dela o retrato perfeito da solidão e tristeza. No papel do vilão Nino, o impagável Ron Perlman chama atenção e entrega um dos melhores trabalhos da sua vida. Já Albert Brooks, como Bernie Rose, constrói um mafioso diferente de tudo que você já viu (sua interpretação lhe rendeu uma justa indicação ao Globo de Ouro). E fechando o time, temos ainda o mecânico Shannon, interpretado pelo eficiente Bryan Cranston, famoso pela série de TV Breaking Bad.

No final, Drive se mostra um neo-noir contemplativo. Nicolas Winding Refn explora a natureza humana de forma investigativa, transformando um olhar em mil palavras e valorizando estes momentos de maneira única. A obra consegue intercalar perfeitamente momentos de puro ódio com a beleza triste de um amor platônico, resumindo em apenas um beijo todo este significado. Refn merecidamente ganhou Cannes de melhor direção por Drive e deixou todos bem animados com o que poderia vir a seguir.

Filme obrigatório.


Fonte: http://pipocaenanquim.com.br/cinema/drive-critica/ 

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Facebook & Instagram


Há exatos 31 dias atrás Marcos Zuckerberg anunciou ao mundo que o Facebook havia comprado o Instagram por US$ 1 bilhão.

Para felicidade dos usuários do Instagram, pelo menos até o momento, não houve alteração na utilização do aplicativo, porém uma semana antes da compra, o aplicativo foi liberado para o sistema Android do Google.


Segue abaixo um texto publicado pelo consultor de Marketing, Marcos Hiller, em seu blog no dia do anúncio de Zuckerberg.





A mais nova simbiose do mundo digital: Facebook & Instagram


Nos primeiros dias de vida, o Instagram era apenas quatro funcionários, incluindo seus dois co-fundadores, e que trabalhavam amontoados nos primeiros escritórios do Twitter no bairro de South Park de San Francisco. E o Instagram, mais uma start-up da California e que não tem receita, fez brilhar os olhos do judeu liberal Mark Zuckerberg, que desembolsou um bilhão de dólares, e muito em breve vai saber como capitalizar muito bem em cima dessa fascinante rede social de fotos.

No veloz e ansioso mundo contemporâneo que vivemos, comprar o vizinho é a mais rápida estratégia para crescer. Não necessariamente é a decisão mais barata, mas é a mais rápida. Crescer de forma orgânica pode ser louvável, mas nem sempre responde à ambição de crescimento de acionistas. Assim como o Google, há alguns anos comprou o YouTube, e o transformou no segundo maior site de buscas do mundo. E por trás dessa aquisição do Instagram percebe-se uma visível intenção do Facebook em se tornar ainda mais forte nos dispositivos móveis, e deixar promissores aplicativos longe das garras do Google. O Instagram é uma criação concebida puramente para o universo mobile.



Quem usa o Instagram entende o magntismo que essa rede social gera. O conceito realmente é simples e genial ao mesmo tempo, pois faz com que pessoas se comuniquem por meio de imagens. A psicologia cognitiva talvez nos ajude a entender o fascínio por essa rede social, pois ela prega que seres humanos gostam mais de imagens do que textos. Por esse motivo que praticamente todas as marcas do mundo sempre adotam um símbolo ou um mascote para acentuar sua aproximação aos consumidores. E o conceito é simples. O Instagram é fundamentalmente uma rede social concebida em torno da fotografia, e disponibilizado apenas para uso em celulares (apenas para iPhone da Apple até a semana passada, agora já disponível também para o "patinho nada feio" Android, o sistema operacional da Google), onde as pessoas adicionam belíssimos efeitos às suas fotos produzidas com a (cada vez menos limitada) câmera do celular e compartilham com os amigos. O Instagram já tem dezenas de concorrentes, mas nenhum outro aplicativo teve uma ascensão tão rápida.

Ninguém perde com a compra do Instagram pelo Facebook. No entanto, alguns fãs do Instagram torcem para que o Facebook mantenha a originalidade e o conceito do aplicativo devidamente preservado. Pelo menos nesse início de simbiose, tudo deve continuar como sempre foi. Mas logo após o anúncio da notícia, os usuários mais assíduos do Instagram começaram a expressar descontentamento com a novidade nas redes sociais. Só o tempo nos dirá como serão tratados os mais de 30 milhões de usuários que fazem uploads de mais de 5 milhões de fotos ao dia.



terça-feira, 1 de maio de 2012

Os Vingadores - O Filme

Estreou na última sexta-feira dia 27 de Abril, o filme de super-heróis mais aguardado de todos os tempos (isso até o próximo do Batman, rs..). Em um só filme foram reunidos Homem de Ferro, Thor, Capitão América, Hulk, Viúva Negra e Gavião Arqueiro, além dos agentes da S.H.I.E.L.D., Nick Fury, Maria Hill e Phil Couson. Todo esse grupo junto para enfrentar o asgardiano Loki, irmão de Thor.

Mas o filme é tudo isso que os fãs esperavam? Valeu a pena esperar esse tempo todo? Será que não fizeram bobeira com o roteiro e estragaram todo o potencial que tinham em reunir os super-heróis em um filme, e agora não vamos mais querer ver esses filmes?



Bem, a resposta para todas essas perguntas é: Sim, o filme é muito melhor que poderíamos imaginar. Sem dúvida é disparado o melhor filme de super-heróis da Marvel feito até agora. Uma verdadeira obra prima da Marvel Studios, que atingiu seu ápice no universo cinematográfico.

Uma das maiores preocupações de todos, fãs ou não da Marvel, era o elenco enorme de super-heróis em um único filme. Teria espaço para todos eles atuarem? Não corria o risco de um ofuscar o brilho do outro? A preocupação foi revelada em desnecessária, pois isso não aconteceu. Cada um dos personagens possuiu um papel importante, bem definido, sendo que todos ganharam o destaque que merecem.

Tudo isso foi possível pelo excelente trabalho do diretor e roteirista Joss Whedon. O roteiro foi escrito de forma brilhante, com diálogos bem construídos e algumas vezes muito engraçado. Sim, o filme tem momentos muito engraçados, mas sem descambar para a comédia. Esses momentos alternam-se com momentos de tensão, tudo isso em uma batalha gigantesca.

Loki, o vilão do filme também merece destaque, já que ele se apresenta como um autêntico mesquinho, ganancioso e narcisista. Em alguns momentos ele nos engana aparentando que ainda há salvação para ele, entretanto ele acaba sorrindo de forma maníaca e nos apunhalando pelas costas.


A ação do filme é espetacular e sem dúvida será elogiada mesmo por aqueles que não ligam para filmes de super-heróis.  Já os fãs mais entusiastas serão plenamente satisfeitos com as cenas de lutas da batalha dos Vingadores contra o exército de Loki.

Vale lembrar que além de tudo isso, o elenco é formado por estrelas que se sabem muito bem em cada personagem. Robert Downey Jr., Samuel Jackson, Scarlet Johansson, Jeremy Renner, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Chris Evans, Cobie Smulders, Clark Gregg e  Tom Hiddleston seguram a bronca, principalmente se considerarmos que serão dissecados pelos fãs mais xiitas.

Os Vingadores é diversão garantida nos cinemas, é um daqueles poucos filmes que vale cada centavo que você paga no ingresso e obviamente, é um filme obrigatório para os fãs de quadrinhos.

Quem puder, assista em Imax, sem dúvida você achará a diversão espetacular e irá querer sair da sala de cinema e entrar na fila para comprar um novo ingresso.


Enjoy it!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Ufania da Copa


Já estamos há 2 anos da Copa e não temos nem um terço das obras prontas.  Obviamente todas elas já foram superestimadas e muito dinheiro ainda será desviado. Os bolsos de poucos ficarão bem cheios enquanto a maioria do povo brasileiro, ufanista, ficará apenas achando o quão bom é termos uma Copa por aqui e é bem capaz de não enxergarem a piada de mal gosto que será.

Reproduzo aqui um texto de Outubro de 2011 do jornalista Guilherme Fiuza. Embora não tenhamos mais o (imbecil) Orlando Silva ocupando o cargo de Ministro dos Esportes, o texto é bom para refletirmos como a político Pão e Circo impera na República das Bananas.


2014, a Copa do governo bêbado

Dilma foi à Fifa e acabou com as dúvidas sobre a Copa do Mundo: chova ou faça sol, está garantida ao Brasil uma boa ressaca em 2014.

Essa perspectiva segura foi muito bem recebida pelos brasileiros, um povo cordial que jamais renuncia à alegria e ao oba-oba, mesmo quando está sendo assaltado.

A preparação do país para a Copa vai muito bem, obrigado. As obras faraônicas para os estádios seguem as regras mais estritas das negociatas, devidamente avalizadas pelo dinheiro do contribuinte.

A grande novidade é que o torcedor brazuca, ao entrar no Maracanã ou no Itaquerão, vai poder encher a cara e esquecer os quase 2 bilhões de reais que esses novos templos da esperteza lhe custaram.

Foi mesmo providencial o anúncio do ministro dos Esportes, Orlando Silva, sobre a revogação da Lei Seca nos estádios brasileiros durante a Copa. Ninguém suportaria assistir careta a tanto gol contra.

Tome mais uma dose e alcance a lógica do ministro:
A proibição de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol, determinadas pelo Estatuto do Torcedor contra a epidemia de violência nas arquibancadas e nas ruas, pode ser suspensa porque "a Copa é especial".

Orlando Silva explicou que essa regra de civilidade e segurança, há anos em vigor no Brasil, pode ser revista por causa dos "compromissos da FIFA com os patrocinadores".

O ministro tem razão. O direito brasileiro termina onde começa o faturamento da FIFA. Esse papo de soberania nacional soa bem em época de eleição - mas em época de Copa do Mundo não tem nada a ver. A Copa é especial.

Os que acham absurdo sujeitar as leis do país a uma marca de cerveja estão reclamando de barriga cheia. Se a patrocinadora da FIFA fosse a Taurus, o ministro Orlando Silva também examinaria "com cuidado e naturalidade" a entrada de torcedores armados nos estádios.

E que não venham os estudantes protestar contra o roubo de seu direito à meia entrada na Copa. O governo brasileiro pode ser frouxo, mas felizmente também é incompetente: na falta de um sistema de transporte decente, decretará feriado nos dias dos jogos.

Os estudantes não tem o que reclamar.

Dilma e Orlando Silva poderiam estar matando, poderiam estar roubando, mas estão só rasgando as leis. Viva o governo ébrio.



quarta-feira, 21 de março de 2012

Eu tive um sonho


Acordei num dia em que os tablóides de 0,50 centavos não traziam nenhum escândalo ou frase de duplo sentido estampados, a Luciana Gimenez resolveu fazer medicina na Universidade Estácio de Sá e abandonou seu programa de variedades, a turma do Pânico cansou de fazer sempre a mesma coisa e foi apresentar um programa sobre hermenêutica na TV Cultura e a novelinha Malhação saiu do ar, depois que um dos atores de sua primeira temporada teve o primeiro neto.

Era um Brasil diferente, o Magazine Luiza vendia estantes para livros e as crianças não entendiam como alguém um dia realmente pôde gostar de "Ai, se eu te pego", sem falar em micaretas, que hoje só podiam ser vistas no Museu do Mau Gosto, junto com uma reconstrução cenográfica da Gaiola das Popozudas.

Curiosamente, o brasileiro não ficou menos brasileiro por isso, continuava com essa tendência genética a falar alto e trazer sempre uma gargalhada histérica pronta para ser disparada a qualquer momento, mas pelo menos parou de consumir toneladas de entulho no café, almoço e jantar, o que já era grande coisa.

Tiriricas ainda passeavam pelo Congresso, afinal, velhos hábitos não morrem facilmente, mas o cidadão médio cansou de ver sempre a mesma coisa, num loop de "É o Tchan", "Rebolation", "Bonde do Vinho", "Brasil Urgente" e "A Fazenda".

Das novelas, sobrou só a das oito, mesmo assim a título de preservação do patrimônio, já que apenas senhorinhas que já passaram dos 70 anos ainda assistiam aquilo.

Diziam que foi algo que os americanos colocaram na água, alguns suspeitaram de vazamento na usina de Angra, mas o fato é que eu achei bem legal o que vi.

Mas o mais pitoresco, o que mais chamou minha atenção, foi a velha casa do BBB. Algumas pessoas moravam ali, paredes de vidro e pequenas passarelas guiavam os visitantes sobre aquele zoológico humano.

Alguns atiravam um contrato para a capa da Playboy para uma moça, que em troca fazia gracinhas dentro de uma piscina, tal qual uma foca ou um golfinho em troca de um peixe.

O impacto foi tanto, que tive que perguntar a uma daquelas pessoas que observavam o porque daquilo tudo, e a explicação mostrou que eu estava realmente sonhando:

- Sabe o que é, moço, é que a audiência do BBB caiu, ninguém mais votava em paredões, ninguém comprava o pay-per-view, então resolveram tirar o programa do ar, só que esqueceram os BBBs presos aí dentro da casa.

- Que isso, e ninguém soltou?

- Nada, o Eike Batista comprou a casa de porteira fechada, com os participantes dentro e tudo, cercou e começou a cobrar ingresso, dizem até que foi por isso que passou o Carlos Slim como o homem mais rico do mundo.

Fonte: www.contracorrenteza.com 


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Trilogia O Poderoso Chefão (sem spoilers)


Para àqueles que me conhecem sabem que esse (filme 1) é o primeiro da minha lista de melhores filmes de todos os tempos. Você pode até não gostar, mas clássico é clássico e eles devem ser assistidos.

Essa obra de arte foi dirigida por Coppola em 1972, 74 e 90 com roteiro dele e de Mario Puzzo, autor do livro.  Com uma constelação de estrelas participando, como Al Pacino, Robert Duval, James Caan, Diane Keaton, Robert de Niro (segundo filme) e eternizada com a brilhante interpretação de Marlon Brando como Don Vito Corleone, a parte I está sempre alternando o posto de primeiro e segundo lugares como melhor filme de todos os tempos, nas mais diversas listas criadas mundo afora.

A trilogia narra a ascensão e queda da família Corleone comandando a máfia italiana em Nova York entre os anos 40 e 70. Com atuações fantásticas, diversas cenas e falas marcaram o cinema mundial, bem como a trilha sonora e música tema (composta por Nino Rota). Você pode até nunca ter assistido a um dos filmes, mas basta ouvir os primeiros acordes da música tema para saber que se trata do Poderoso Chefão.

Diversos atores consagrados foram cotados para os papéis principais e boa parte deles fizeram testes para participar do primeiro filme. No lugar de Brando foram cotados os atores Laurence Olivier e Ernest Borgnine. Para o papel de Michael Corleone cotaram Robert Redford e Ryan O´Neal, sendo que Jack Nicholson, Dustin Hoffman, Warren Beatty, Martin Sheen e James Caan chegaram a fazer os testes, sendo que Caan acabou ficando com o papel de Sonny.

A lista de estrelas cotadas continua com Bruce Dern, Paul Newman e Steve McQueen  foram considerados para o papel de Tom Hagen, que acabou ficando com Robert Duvall.  Participaram ainda dos testes Sylvester Stallone, Anthony Perkins e Mia Farrow.

  A Trilogia ganhou no total 9 prêmios Oscar (parte I e II) entre diversos outra prêmios ao redor do mundo. Até hoje muita receita é gerada com a venda de produtos licenciados da trilogia como Action Figures, camisetas, games entre outros.

Para os mais novos que gostam de cinema e ainda não assistiram os filmes, fica a lição de casa para apreciarem esta obra prima. Para os mais velhos que ainda não assistiram, por favor, não falem que gostam de cinema se não viram, pois esses são filmes obrigatórios para qualquer cinéfilo.


Obrigado Mario Puzzo e Francis Ford Coppola por compartilharem com o mundo essa obra de arte.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Anos 80 - Os Melhores


Estava pensando qual tema abriria os posts de 2012 e não chegava a nenhuma conclusão. Queria um assunto diferente de filmes/livros/séries, algo mais abrangente e ao mesmo tempo em que fosse quase uma unanimidade (eu sei que é impossível). Como vocês podem ver, estava bem fácil, rs.., mas ês que tive um insight sobre 2 filmes dos anos 80 e pensei: “Anos 80 seria excelente” (pelo menos o tema, não o meu texto, rs..).

A onda de nostalgia começou anos atrás e ainda mantém-se forte até hoje. Festas de anos 80 foram organizadas em vários lugares e justiça seja feita, pelo menos para o Rock Nacional, esses foram anos de glória.

Tudo que há de melhor no Rock Nacional surgiu nessa década: Biquini Cavadão, Ultraje a Rigor, Paralamas do Sucesso, Blitz, Lobão, Kid Abelha, Barão Vermelho, Titãs, Ira!, Capital Inicial e a maior e melhor de todas, Legião Urbana. Havia espaço para tudo, humor irreverente, mas com conteúdo, vide as letras de Roger Moreira e seu Ultraje a Rigor, críticas sócio-econômica e políticas (Titãs, Paralamas, Capital e Legião entre outros).

Mas outros ramos da cultura também tiveram seus anos célebres. No cinema (tento fugir dessa temática, mas não tem jeito, rs..) houve algumas franquias clássicas como Loucademia de Polícia, Um Tira da Pesada, Duro de Matar, Férias Frustradas, Rambo, Rocky, Indiana Jones, Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu, De Volta para o Futuro para citar algumas e outros clássicos com Goonies, Gremlins, Conta Comigo, ET, Curtindo a Vida Adoidado, De Volta às Aulas, Batman entre tantos outros.

Na TV também tivemos seriados americanos clássicos como A Super Máquina, Esquadrão Classe A, Chips, Duro na Queda, Missão Impossível, Magnum, A Gata e o Rato, Miami Vice, Trovão Azul, Profissão Perigo (MacGyver). Por aqui não tivemos tantas produções legais, mas vale citar a Armação Ilimitada, os programas Os Trapalhões, TV Pirata e o Viva o Gordo, o qual eu esperava a semana toda passar pra poder assistir. Entretanto acho que o campeão em audiência desde o início da década e o qual ainda tem uma enorme audiência é o Chaves. Gerações se passaram e o sucesso continua firme e forte em terras tupiniquins.

E os desenhos? Foram muitos como Scooby-Doo, A Caverna do Dragão, Thunder Cats, A Corrida Maluca, Pica Pau, Os Jetsons, Hong-Kong Fu, Tutubarão, Falcão Azul e Bionicão, Super-Amigos, Os Impossíveis, Johnny Quest, os Herculóides, A Corrida Espacial e muitos outros, a lista é enorme.

O mundo era diferente e muito mais simples, jogávamos Atari e Odissey, onde ambos os joysticks tinham apenas um botão. Passávamos horas jogando bola na rua, brincando de várias brincadeiras como Esconde-Esconde, Mãe da Rua entre outras, sem grandes preocupações. Em épocas de chuva passávamos horas jogando futebol de botão e vários jogos de tabuleiro. Quem foi que já não arranjou uma discussão jogando War ou Banco Imobiliário? Tinha também o Detetive, Jogo da Vida, Master, Scotland Yard, Jogo da Veja (sim, a revista) Cara a Cara, Combate e por aí vai. Claro que não podemos esquecer que comprávamos nossos brinquedos no Mappin ou na Mesbla.

Meninos colecionavam figurinhas de futebol entre outras, meninas colecionavam papel de carta e brincavam de elástico, que os meninos sempre achavam ridículo, rs... nas festinhas de aniversário sempre rolava um Beijo, Abraço ou Aperto de Mão. Nessas festas tomávamos  Coca-Cola, Gini, Crush, Tubaína e muita Fanta Uva. Sempre tínhamos no bolso um Drops Dulcora, chiclete Ploc, Ping-Pong (com figurinhas) e Adams Mini.  Comemos muito chocolate Lolo, Surpresa (colecionávamos os cartõezinhos de animais), sensação e Kri. 
                                                      Vai dizer que você nunca se engasgou com uma bala Soft?

Sinto saudades deste tempo (sim, sou saudosista moderado, rs...) onde conversávamos com um ou vários amigos pessoalmente, e não precisávamos de um computador para isso. Eu achava legal quando ia usar um orelhão e percebia  que não haviam pego a ficha que havia sido devolvida. Adorava guardar as tampinhas da Coca-Cola para trocar pelos vários brindes legais (Ioiôs, mini garrafinhas...), e usei muito Kichute e Bamba Cabeção até a sola ficar lisa.

Mas como o velho clichê de que tudo que é bom dura pouco, os anos 80 passaram (vieram os chatos anos 90), o mundo mudou e passou a ser online através da internet e dos vídeo games conectados a rede. Tudo bem que esse novo mundo tem seus atrativos, mas sem dúvida não é mais um mundo onde as coisas demoram a acontecer, onde um ano passava devagar e conseguíamos fazer um monte de coisas sem termos a louca sensação de que não tínhamos tempo para nada, como hoje em dia.

Faltou falar de muita coisa legal, se lembrarem de mais coisas que marcaram, falem aí no comentário.

Se você viveu os Anos 80 sabe bem como eles foram legais. 

Salve os Anos 80!