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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Drive - O Filme


Depois de um breve intervalo, volto com um post dedicado a sétima arte. Drive certamente é um dos melhores filmes que assisti esse ano. Poderia falar muita coisa sobre ele, mas preferi publicar a crítica bem escrita do site Pipoca e Nanquim, a qual eu concordo em gênero número e grau.
Uma boa leitura!


É muito interessante acompanhar a ascensão de um exímio cineasta. Depois de executar uma respeitável trilogia intitulada Pusher, o diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn chamou a atenção de todos com a insana história real de Bronson o presidiário mais infame e brutal da Inglaterra -, e em O Guerreiro Silencioso (Valhalla Rising) explorou de forma assustadora a vida de homens perdidos em uma Europa montanhosa, que beirava o início das cruzadas e chafurdava na violência e ignorância. Uma realidade certamente distante.

Mas em Drive, o diretor atinge um nível de perfeccionismo que em suas outras obras não alcançou. Ele encontra o tempo certo, apresenta a trilha perfeita, escolha somente as palavras exatas e entrega de presente uma fita memorável, que o posiciona ao lado de grandes diretores de nossa geração. Sem exageros.

O Filme conta a história de um jovem e habilidoso motorista que trabalha como dublê em cenas de velocidade. Mas, em suas horas vagas, exerce outro tipo de serviço onde a perícia ao volante é igualmente importante. Cercado por interesses escusos da máfia local, o piloto acaba pisando em alguns calos, fato que desengatilha uma cadeia de eventos que pode prejudicar todas as pessoas ao seu redor, inclusive sua nova amiga Irene, cujo filho Benício tem pouco mais de 10 anos.

Como todo trabalho bem sucedido, podemos perceber em Drive o caminho, respeito e, principalmente, a atenção que o diretor tem aos mínimos detalhes de sua execução. A criatividade então surge como diferencial: cenas inteligentes, elaboradas de forma poética, iluminação fantástica e edição ao melhor estilo europeu. E o que falar da emblemática trilha sonora? Ela consegue fazer com que a sonoridade dos anos 80 emocione novamente, mesmo com suas linhas extremamente melosas, sintetizadas e irreais.

Refn apresenta traços de genialidade que obviamente são frutos da influência de mestres como Martin Scorcese, Tarantino, Kubrick e do conterrâneo Lars Von Trier. Na verdade, o slow motion utilizado pelo diretor, em certos momentos, nos remete as atuais obras de Trier, como Melancolia e o Anticristo.

O roteiro de Hossein Amini adapta o elogiado clássico noir homônimo de James Sallis. A forma mecânica com que o motorista se desenvolve no livro é transcrita de maneira exemplar no longa, fazendo do personagem um ser complexo e contraditório, altamente articulado mas, ao mesmo tempo, se focando somente em agir instintivamente, como se fosse apenas uma extensão de seu carro, um herói cheio de falhas e estranhezas.

"Much later, as he sat with his back against an inside wall of a Motel 6 just north of Phoenix, watching the pool of blood lap toward him, Driver would wonder whether he had made a terrible mistake. Later still, of course, there´d no doubt. But for now Driver is, as they say, in the moment."
 - Trecho do livro Drive, de James Sallis.

E no papel do motorista sem nome temos Ryan Gosling. Sendo comprovadamente um bom ator, em Drive ele encarna, principalmente, o espírito de um cara diferente em tudo que faz, com raciocínio rápido e apto a realizar atos de violência descomunal. Basicamente nenhuma informação de seu passado é oferecida, e poucas frases são proferidas pelo mesmo durante toda a projeção - poucas, mas contundentes. Lembrando em certos momentos um ser robótico, e em outras o Stallone "Cobra", podemos até fazer um link do motorista com heróis de games desprovidos de alma, como Niko Belic, da franquia GTA (Rockstar), ou mesmo enxergar semelhanças  do longa com a série  Driver (Ubisoft). 

Servindo como par romântico (pouco convencional) temos Carey Mulligan e sua adorável Irene. A atriz apresenta extrema sensibilidade com a personagem, fazendo dela o retrato perfeito da solidão e tristeza. No papel do vilão Nino, o impagável Ron Perlman chama atenção e entrega um dos melhores trabalhos da sua vida. Já Albert Brooks, como Bernie Rose, constrói um mafioso diferente de tudo que você já viu (sua interpretação lhe rendeu uma justa indicação ao Globo de Ouro). E fechando o time, temos ainda o mecânico Shannon, interpretado pelo eficiente Bryan Cranston, famoso pela série de TV Breaking Bad.

No final, Drive se mostra um neo-noir contemplativo. Nicolas Winding Refn explora a natureza humana de forma investigativa, transformando um olhar em mil palavras e valorizando estes momentos de maneira única. A obra consegue intercalar perfeitamente momentos de puro ódio com a beleza triste de um amor platônico, resumindo em apenas um beijo todo este significado. Refn merecidamente ganhou Cannes de melhor direção por Drive e deixou todos bem animados com o que poderia vir a seguir.

Filme obrigatório.


Fonte: http://pipocaenanquim.com.br/cinema/drive-critica/